A maior feira agrotecnológica da região Norte do Brasil, a Agrotins, traz como tema para sua 22ª edição Integrar, Intensificar para Preservar o que evidencia a preocupação do Governo do Tocantins com o desenvolvimento sustentável. Nessa linha, o Tocantins tem alcançado êxito, principalmente quanto à redução de incêndios florestais. No ano de 2021, essa redução foi de 34%, fazendo com que o Tocantins que antes ocupava as primeiras posições no ranking de estados que mais registram incêndios florestais entre os nove estados da Amazônia, hoje ocupa a 8ª colocação. O resultado expressivo é fruto de ações dos órgãos ambientais em parceria com os produtores rurais que escolheram o Tocantins para realizar as suas atividades produtivas.
Dentre as ações executadas pelo Governo do Tocantins está o Manejo Integrado do Fogo (MIF), que consiste em um conjunto de práticas sobre o uso do fogo, tanto para a produção, como também, uma medida de combate ao incêndio florestal. Todos os anos, o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) orienta produtores rurais que estejam em Unidades de Conservação ou entorno delas sobre as práticas do MIF, disponibilizando brigadas especializadas para acompanhar as queimas controladas, bem como, dar treinamento para os produtores sobre os protocolos corretos de manejo do fogo, se tornando aliados no combate aos incêndios florestais no período de seca.
Um desses aliados é o advogado e pecuarista, Remilson Aires Cavalcante, criador de gado da raça Guzerá, que há mais de seis anos tem realizado aceiro negro em sua propriedade que está à margem da rodovia BR-010. O proprietário aprendeu a manusear o fogo ainda quando jovem, hoje, soma forças com os órgãos públicos no combate aos incêndios florestais. “Há seis anos que eu faço aceiro com fogo. A gente aprende de acordo com a necessidade, eu cresci apagando fogo com palha de buriti verde. Antigamente eu fazia o aceiro mandando capinar na beira da cerca, mas ficava muito caro a mão de obra. Então eu passei a fazer diferente, fazer o aceiro com fogo na beira da estrada que é o portal por onde mais entra fogo na fazenda, quando vai dando o verão eu coloco o gado para comer o capim na beira da rodovia, para deixar o capim baixo sem muito volume para ter menos combustão”, explica.
O pecuarista também investiu em equipamentos para ajudar no combate às queimadas na região. “Hoje, eu tenho três containers de mil litros d’água cada, três bombas, mangueira e os equipamentos todos. Daí deixei uma bomba no trator, uma na minha caminhonete e outra para ficar de reserva, que eu uso para transporte de peixe, mas na época de seca, eu uso para apagar fogo. Essa de reserva, eu também deixo para ajudar os outros a apagarem o fogo. Teve ano que na minha propriedade não entrou fogo, mas em outras propriedades no mesmo ano já queimou carros, casas, e os órgãos pediram a minha ajuda na época para controlar. Graças a Deus a gente conseguiu controlar e os Bombeiros, Naturatins e Defesa Civil, todos reconheceram o nosso esforço”, relata o produtor.
Preservação
De um ponto de vista de conservação e preservação, temos o Aldenito José Pereira, 52 anos, que tem a sua propriedade na Serra do Lajeado, desde 2001, sendo a sua única produção, a de mudas nativas para recuperação de áreas degradadas pelo fogo. “Eu faço mudas de plantas nativas para poder recuperar as nascentes e também como subsistência, tem muitas mudas que a gente já plantou aqui e nós estamos cada vez mais querendo restaurar as partes desgastadas e produzimos muitas plantas frutíferas como abacate, goiaba, jambo e jatobá”, conta.
O plantio ocorre em volta das nascentes. “O meu objetivo aqui é de preservação das matas ciliares e das nascentes que estamos cuidando para que elas não se acabe, estamos plantando em volta porque a gente sabe, que se plantar algo vai ajudar a preservar, e o nosso cuidado maior é para que não venha uma erosão ou fogo e acabe tudo. A gente está cuidando para que isso não ocorra”, declara o proprietário.
Aldenito José Pereira realiza trabalho voluntário na região por meio da Associação Água Doce, da qual faz parte como membro e conta que a união entre os produtores têm ajudado a diminuir a queimada na região. “Alguns tempos atrás a queimada era mais, o povo não se unia. Hoje a gente faz parcerias com os vizinhos e faz aquele roço nas margens da rodovia e aí coloca aquele fogo amigo, para não vim o fogo mau depois e aí vai conscientizando o pessoal da região sobre isso”, conclui.
Fogo, um aliado
Uma das dificuldades apontadas pelos proprietários é a falta de conhecimento da população em geral sobre o uso do fogo. Sendo às vezes considerados criminosos, por causa da falta de conhecimento. Como é o caso do pecuarista Remilson Aires Cavalcante que chegou a ter que prestar depoimento por fazer aceiro negro em sua propriedade, às margens da rodovia. “Eu já fui vítima porque fui denunciado por acharem que eu estava colocando fogo e na realidade eu estava fazendo aceiro negro”, conta.
O Aldenito José Pereira também passou por situações parecidas, mas acredita que o comportamento das pessoas está mudando. “Algumas pessoas que passam acham que às vezes a gente está queimando, mas na verdade, estamos fazendo tudo no período certo. As vizinhanças aqui, quase toda está engajada e já somam forças com a gente lá, na hora de fazer aceiro. Hoje, eles ajudam com trabalhadores e temos percebido que de um tempo para cá, as matas estão ficando mais conservadas”, ressalta.
Aldenito declara ainda que o fogo amigo é aliado da preservação. “O fogo amigo é aliado da preservação, mas não aquele que o povo desmata e coloca fogo de qualquer jeito, esse é ruim, hoje tem outras maneiras de fazer a roça sem ter que colocar fogo. Hoje em dia as pessoas quase não estão queimando mais pasto, roça essas coisas”, explica.
Remilson Aires Cavalcante também ressalta, que o fogo é o maior aliado do proprietário rural. “O fogo é o maior aliado do proprietário, uma vez eu ajudei a apagar um fogo grande em uma lavoura de milho, que puseram criminosamente. Eu estava vindo quando eu vi a lavoura de milho seca começando a pegar fogo, o fazendeiro estava doido com os tratores e com umas labaredas de 20 metros de altura. Daí eu fui mostrar para ele como é que fazia, eu mandei os tratores entrando e derrubando o milho, fui pondo fogo e apagando com caminhão com a motobomba que eu mandei trazer. Nós salvamos uns 500 hectares da propriedade. Isso se chama contrafogo, quando você combate fogo com fogo”, ressalta.
Agrotins
A Agrotins que ocorre entre os dias 10 e 14 de maio no Parque Agrotecnológico de Palmas, é uma realização do Governo do Tocantins, por meio da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Aquicultura (Seagro) e parceiros. A Feira contará com um stand específico para falar sobre o fogo e o produtor rural.
Com o stand do Foco no Fogo, a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) estará distribuindo material educativo e repassando orientações sobre o uso do fogo, além de ofertar palestras sobre o assunto. O Foco no Fogo visitou em 2021, 33 municípios, alcançando 4 mil propriedades rurais. Para este ano, a meta é visitar 60 municípios com o intuito de levar orientações por meio da educação ambiental aos produtores rurais para que os índices de queimadas ilegais sejam cada vez menores.