Kelly da Cruz e Mhabya Cardoso, reveladas pelo projeto Águia Real, encaram Flamengo, Corinthians e Criciúma na maior competição de base do futebol feminino brasileiro.
Por Jonas Amaral
A manhã desta terça-feira, 2 de dezembro, começou com malas prontas, ansiedade no ar e um sentimento de realização para duas jovens atletas tocantinenses que embarcam logo mais à noite. Kelly da Cruz Souza, 16 anos, e Mhabya Cardoso dos Santos, 19, deixam o Tocantins e seguem rumo a São Paulo para disputar a Copinha Feminina, competição que transformou o futebol de base em vitrine nacional. As duas fazem parte do elenco do Aliança Futebol Feminino, tradicional potência do futebol goiano, após trajetórias construídas e lapidadas dentro da Associação Esportiva de Conceição Águia Real, sob o olhar atento do diretor esportivo Márcio Leite.
O talento precoce que ganhou asas
A história de Kelly começa em Peixe-TO, onde a bola chegou antes mesmo que a adolescência. Aos 8 anos ela já integrava projetos esportivos municipais, aprimorando fundamentos e demonstrando uma maturidade incomum para a idade. Quando completou 14 anos, sua presença em quadra já se igualava à de atletas mais velhas, antecipando o que viria pela frente.
O intercâmbio com o Águia Real transformou esse potencial em técnica apurada. Não tardaram os resultados: vice-campeã da Taça Nilton Santos Sub-15, em Palmas, e destaque no vice-campeonato Sub-17 pelo Polivalente, em 2024. Em 2025, sua força competitiva se consolidou ao vencer a Taça das Favelas representando o setor Gentil Meireles, além de disputar o Goiano Sub-17 pelo Aliança, clube que agora a leva à Copinha.
No dia 4 de dezembro, Kelly estará diante de um dos maiores desafios da carreira: a estreia contra o Flamengo. O grupo, um dos mais fortes da competição, conta ainda com Corinthians e Criciúma — adversários de tradição no futebol nacional.
A volta por cima que virou capítulo de superação
Enquanto Kelly desenvolvia sua trajetória entre escolinhas e projetos municipais, Mhabya, natural de Conceição do Tocantins, escrevia um caminho marcado por versatilidade e resistência emocional. Começou no futsal, modalidade na qual foi campeã estudantil regional pelo Colégio Estadual Coronel José Francisco de Azevedo. Em 2022 trocou as quadras pelo campo e encontrou no projeto Águia Real o ambiente ideal para evoluir.
Seu nome ganhou destaque em 2024, quando defendeu o 100 Limites, de Araguaína, conquistando a Copa Nilton Santos Sub-18, o Society local e o Campeonato Estadual contra o Paraíso. A dispensa inesperada, porém, forçou um recomeço. Longe de desanimar, Mhabya retornou ao Águia Real e reencontrou seu melhor futebol.

A virada definitiva aconteceu em 2025, quando foi aprovada em testes pelo Aliança — o maior campeão goiano da história. A estreia foi simbólica: marcou o gol da virada na vitória por 4 a 2 sobre o Hidrolandense e assumiu a camisa 10. Liderou a equipe ao título estadual Sub-20, venceu os JUBs Nacional pela UniEvangélica, faturou a Taça das Favelas e recentemente atuou no Goianão Profissional, experiência que reforça sua identidade de atleta madura e decisiva.

A Copinha como vitrine e divisor de futuro
Embarcadas para São Paulo, as duas jovens carregam mais do que expectativas individuais: representam o esforço coletivo de um projeto esportivo que transforma vidas no interior do Tocantins. A Copinha Feminina, por reunir atletas promissoras de todo o país, desponta como o cenário ideal para que Kelly e Mhabya ampliem horizontes e chamem atenção de clubes profissionais.
O trabalho desenvolvido pela Associação Esportiva de Conceição Águia Real, conduzido por Márcio Leite, mostra que talento, quando encontrado e acompanhado de forma responsável, encontra caminhos. O futebol brasileiro cresce quando histórias como estas ganham espaço.



